9 ANO - A CRISE DE 1929




Após a Primeira Guerra Mundial os Estados Unidos tiraram proveito da destruição da Europa e tornaram-se, ao longo da década de 1920, a principal potência econômica do mundo, sendo o maior credor e o maior exportador de produtos industrializados. Vivia-se um período de grande entusiasmo e se tinha a ilusão de que os Estados Unidos era a terra da prosperidade onde todos tinham a oportunidade de enriquecer. Porém, conforme europeus recuperavam sua capacidade industrial e sua economia, as exportações norte-americanas diminuíam em passo acelerado. Em 1929 a euforia não era mais a mesma. A queda da bolsa de Nova York, em outubro daquele ano, marcou o auge da crise do capitalismo.
 Rapidamente a crise se espalhou pelo mundo provocando grande aumento no índice de desemprego, inflação, queda de produção e a falência de centenas de empresas. Na Europa, as dificuldades se agravavam e muitos governos não eram capazes de resolver os inúmeros problemas sociais. Os regimes democráticos, caracterizados por eleições, divisão dos poderes e leis para controlar a ação dos governantes, pareciam não ter resposta para a crise. Diante desse quadro, as elites econômicas, preocupadas ainda com o surgimento de grupos que defendiam a adoção de um regime socialista e querendo recuperar o capitalismo, passaram a apoiar a formação de governos autoritários.

A crise de 1929

     Para compreendermos como ocorreu a falência da economia capitalista em 1929, devemos relembrar algumas das consequências da Primeira Guerra Mundial, encerrada dez anos antes. Durante o conflito mundial a capacidade produtiva dos países europeus, no que se refere a alimentos e produtos industrializados, foi drasticamente reduzida. Isso ocorreu basicamente devido à destruição de boa parte dos meios de produção. Como alternativa para suprir suas necessidades, esses países passaram a importar uma grande quantidade de produtos dos Estados Unidos que, além disso, concediam aos europeus grandes volumes de empréstimos cobrando posteriormente elevadas taxas de juros. Desse modo, enquanto a Europa enfrentava uma crise terrível, os Estados Unidos tiravam proveito da situação e viviam um dos períodos mais prósperos de sua história.
 Abastecendo o mercado europeu com diversos artigos, a produção agrícola e industrial dos Estados Unidos teve um grande crescimento no decorrer da guerra e depois da guerra. Sendo os maiores credores e exportadores do mundo, os norte-americanos viviam um clima de grande otimismo tendo a falsa ilusão de que a prosperidade econômica não teria fim. A década de 1920 foi marcada por grandes investimentos na Bolsa de Valores.[1] Muitos empresários, com o objetivo de aumentar o seu capital, passaram a lançar ações no mercado com a certeza de que essas iriam se valorizar cada vez mais. Contudo, a partir da segunda metade da década de 1920 o cenário vantajoso começou a ser alterado. A produção continuava em ritmo acelerado, porém, o número de consumidores não acompanhava mais o crescimento da produção. Isso ocorreu devido a mudanças ocorridas tanto no plano interno quanto no plano externo.
Internamente, o poder aquisitivo da população não atendia a necessidade da indústria. Mesmo com a economia estando em um grande momento, verificou-se que a riqueza não era partilhada por todos. A renda estava concentrada nas mãos de uma minoria (banqueiros, grandes empresários e especuladores da bolsa de valores, por exemplo) enquanto que o restante, cerca de 60% da população, estava em situação desfavorável, com baixos salários e abaixo da linha da pobreza. Ao mesmo tempo, na Europa, países como França e Inglaterra entraram em um período de recuperação econômica e automaticamente passaram a consumir uma quantidade menor de artigos produzidos pelos Estados Unidos.  A partir dessa mudança os norte-americanos passaram a enfrentar uma grave crise de superprodução, ou seja, uma grande quantidade de mercadorias oferecidas e poucos compradores.
A economia norte-americana manteve-se por algum tempo devido à grande disponibilidade de dinheiro no mercado, o que permitia que os bancos e o próprio governo concedessem empréstimos estimulando as pessoas a comprarem a crédito. Dessa maneira, apesar de o mercado consumidor estar em notável queda, os norte-americanos cometeram o erro de continuar produzindo em grande escala o que obviamente agravou ainda mais a crise.

 Os efeitos da crise

      As consequências foram terríveis e notadas imediatamente, não só na produção industrial, mas também na agricultura e nas atividades bancárias. Primeiramente, a falta de compradores e o grande volume de artigos armazenados provocou uma rápida queda de preços. Apesar de os preços despencarem a cada dia, os produtores industriais e agrícolas não conquistavam mais consumidores. Lucrando cada vez menos, as empresas foram obrigadas a diminuir a produção o que resultou na demissão de milhares de trabalhadores. [2] Entre 1929 e 1932 85 mil empresas declaram falência e a produção industrial nos Estados Unidos foi reduzida em cerca de 54%. Ao mesmo tempo, mais de 4 mil bancos fecharam após terem concedido empréstimos a empresários e a agricultores que não tiveram como pagar suas dívidas.

Crise de 1929: a grande depressão econômica que faliu os Estados ...

Por todo os Estados Unidos era comum a cena de desempregados e famintos buscando ajuda e formando filas em instituições que serviam comida.

A História repete-se? O segredo está no passado - História

 Outro ponto que demonstra bem o impacto da crise diz respeito ao índice de suicídios, que cresceu assustadoramente nesse período.No dia 29 de outubro de 1929 a crise financeira resultou na quebra da Bolsa de Nova York. Com a economia prejudicada muitos procuravam vender as ações que possuíam a qualquer preço. Como a oferta de ações era muito maior do que a procura para a compra, as ações investidas desvalorizaram rapidamente fazendo com que milhares de pessoas e empresas, que acreditavam estar seguras com os investimentos feitos na bolsa, ficassem completamente arruinadas. O pânico tomou conta de Nova York e a crise se espalhou por outros países do mundo, ficando conhecida como a Grande Depressão.

A crise de 1929 e um olhar para o presente, por Luiz G. Belluzzo ...

Os efeitos da crise foram sentidos por todos aqueles países que mantinham relações comerciais com os Estados Unidos. Durante e após a Primeira Guerra Mundial, tanto por receberem empréstimos quanto por comprarem os produtos dos norte-americanos, boa parte dos mercados internacionais haviam se tornado dependentes da economia dos Estados Unidos. Entre 1929 e 1939 o comércio sofreu uma dura redução de quase 1/3 de suas atividades em todo o mundo.
Na Europa, a Inglaterra e a Alemanha foram os países que mais sofreram com a crise. Tanto ingleses quanto alemães eram grandes consumidores dos produtos dos Estados Unidos e no caso da Alemanha, a situação se agravava ainda mais devido as penalidades impostas pelo Tratado de Versalhes. Nesses países o índice de desemprego também aumentou muito, chegando a 22% na Inglaterra e 44% na Alemanha. Por fim, a crise de 1929 também teve como importante consequência o fortalecimento de grupos que defendiam a instalação de regimes totalitários alegando que os governos democráticos de caráter liberal eram incapazes de resolver os inúmeros problemas sociais.

História Geral no Enem - Compreenda a Crise de 1929

A crise sentida no Brasil

No Brasil a crise teve dois efeitos. Na época a economia brasileira ainda era totalmente baseada na produção agrícola e o café era o principal produto exportado pelos brasileiros.  A maior parte do café brasileiro era comprado pelos norte-americanos que com a crise, logicamente, passaram a consumir menos provocando o estoque do produto no Brasil e consequentemente a queda no preço.
Com o fim da chamada República do “café com leite” e início do governo de Getúlio Vargas, em 1930, milhares de sacas de café foram compradas e destruídas pelo governo brasileiro numa tentativa de impedir que os preços caíssem ainda mais. Se por um lado a economia brasileira e, sobretudo os grandes cafeicultores sofriam com a crise, outro setor, o industrial, foi beneficiado.
Alguns fazendeiros deixaram de plantar café e se voltaram para as atividades industriais. Ao mesmo tempo, por conta da desvalorização da moeda nacional, os produtos importados além de raros tornaram-se muito caros. O governo Vargas compreendeu essa realidade e passou a valorizar e a incentivar a produção industrial brasileira.

New Deal (novo acordo):um programa para superar a crise.

Nas eleições de 1932 Herbert Hoover tentou se reeleger para o cargo de presidente dos Estados Unidos, entretanto, os eleitores preferiram o democrata Franklin Delano Roosevelt, que venceu seu adversário por uma diferença de 7 milhões de votos e governou o país de 1933 a 1945. Roosevelt assumiu a presidência tendo importantes compromissos: recuperar a economia e encontrar uma solução para o problema da falta de empregos.  
Logo no início de seu governo foi adotado o New Deal, um programa inspirado nas ideias do economista inglês John Keynes[3] e que visava superar todos os problemas provocados pela crise. Até então, os norte-americanos eram favoráveis ao liberalismo econômico e contrários a qualquer tipo de intervenção do Estado na economia. Porém, o programa contrariava tudo aquilo que o governo dos Estados Unidos historicamente pregava para o funcionamento da economia. O New Deal previa:
- intervenção do governo em todas as atividades econômicas. O governo passou a regular as atividades bancárias, as operações da Bolsa de Valores e a supervisionar sindicatos e as indústrias.
- no setor trabalhista, o governo decretou carga horária semanal de 40 horas, pagamento do salário mínimo e criou o salário desemprego para proteger os trabalhadores.
- controle, por parte do governo, da produção agrícola e da extração de petróleo e de carvão. Os preços desses produtos também passaram a ser controlados pelo governo.
- empréstimos feitos pelo governo a fazendeiros para que esses pudessem pagar suas dívidas.
- com o objetivo de criar novos empregos, o governo passou a investir pesadamente na construção de grandes obras públicas. 
O programa proposto pelo governo obteve resultados positivos, já que as medidas tomadas garantiram a sobrevivência das pessoas mais pobres e fizeram com que consumo da produção aos poucos se normalizasse. A indústria voltou a produzir e a oferecer novamente oportunidades de empregos para os operários e os agricultores, da mesma forma, conseguiram se recuperar financeiramente. Mesmo assim, a economia recuperou-se totalmente com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939 quando os Estados Unidos começaram a fornecer grandes quantidades de produtos aos países europeus.

Franklin D. Roosevelt: Rare Large Campaign Poster with Ben Shawn ...

Apesar de ter sido criticado inicialmente pelos setores mais conservadores da sociedade que o acusavam de comunista por estar intervindo nos assuntos econômicos, o sucesso do New Deal garantiu a Roosevelt prestigio suficiente para ser reeleito três vezes. Mesmo assim, especialmente na Europa e independente da gradativa recuperação dos norte-americanos, a quebra da economia mais rica o mundo serviu para despertar muitas dúvidas em relação ao modelo liberal da economia capitalista. Para muitos, era preciso um Estado forte e centralizado que substituísse o liberalismo pelo nacionalismo. Surgiriam assim os regimes totalitários.

 ATIVIDADE ( COPIAR AS PERGUNTAS E RESPONDER NO CADERNO)

1) Com suas palavras, explique como ocorreu a crise de 1929 e cite algumas de suas consequências.
2) Para combater a crise o governo norte-americano criou um programa de metas. Que programa era esse e o que ele dizia?
3) Que significados a crise de 1929 teve para a economia do Brasil?
4) Como ocorreu a quebra da bolsa de Nova York?
5) Como o governo dos EUA solucionou a crise?

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